terça-feira, 6 de setembro de 2016

arquipélago

Há, sob nossos pés, uma placa instável.
                            [ tectônica; platônica? ]
e já se abalou, nos embalou entre tantos gritos e discussões,
                                                      algumas curtas decepções. Razoáveis razões.
puras certezas de que cada um, nenhuma firmeza sob nós dois. 

Formamos várias e muitas ilhas no nosso continente, 
por não conter mais o que sentimos pela gente
fomos implodindo suavemente, sem mesmo nem perceber 
                                                          a gente
foi separando os dedos das mãos, transformando o amor numa triste menção.
e catatonicamente, a gente se viu afundando,
entre escuras e frias mágoas,
E a cada sismo, tudo infinitamente piorava.

E era a tragédia nossa tão natural, que não tinha o que muito se fazer,
e a previsão do que viria, era na verdade um alerta constante,
                  [ vai acontecer, vai acontecer, vai acontec... aconteceu. Trememos. Tremeu ]

Entre o que fomos e o que sobramos, 
nós dois, meu bem, fizemos um arquipélago.
Tremores de mãos, de palavras, de ansiedade, de atitudes e de verdades,
separaram os nossos melhores de nós' em pequenas e diminutas ilhotas,
entre o caos que formamos durante tantos anos, 
e o que era o Nós, aguentou nadar no meio de tanta incerteza até alcançar qualquer ilha boa, de maré bonita, tão presa no passado e tão, tão, tão deserta e esquecida. Já inabitada.
Mas trazia da paz um pouco, tranquilizava. 
Por anos, vastos e devastos.

Era assim que se dava, a terra partia, a gente caia, chorava no mar, 
                                                                    [ água salgada com água salgada, ninguém vê ] 
nadava e se cansava tentando alcançar a nossa mais frívola e aleatória lembrança do que era felicidade, e se prendia nela, anulando a tragédia. Até vir outra, e eram tão próximas.

Nos especializamos a retalhar o amor, e a remendar a dita dor,
mentindo o perdão, querendo alcançar o que já não mais podia a nossa mão.

E esta colcha de retalhos que tecemos, oceânica e imensa,
tentou nos aquecer durante os anos de tanta dança dos nossos fragmentos despendidos da antiga zona de convergência
                                                                                         [ FALÊNCIA! ]
Tão fina, não conseguiu. 
Tão polar que era a água, e tão bipolar que éramos quanto a nós.


Acabamos com nossa Pangéia, 
mas as nossas pequenas ilhas, vão ficando pra sempre,
mesmo separadas, 
                             sempre serão
                                                   destinos maravilhosos
de reviver o que se passou, o passado, que enfim, acabou.