sexta-feira, 3 de junho de 2016

Desesp[licando]erando.

me sinto só.

Só isso, me sinto só. A minha casa é um bloco de paredes vazias de quadros, de retratos. O chão não tem passos, não tem sapatos amontoados, não suja tanto, é tão frio. Só porcelato e vazio.
A cozinha é silêncio, nada no fogão. Só um prato. Um garfo, faca, um copo.
Todos os dias, contando os dias.

Minha felicidade não me pertence. Ela me visita.
E eu, vez ou outra, a visito também.

São instantes. Eu me parto ao meio, e depois em pedaços menores, até não poder catá-los.

Onde é que isso termina? E quando é que isso tem fim?

Não sei as respostas, não entendo as respostas que dão. Fico aflita, no canto, apertando, cegamente, as teclas no piano, fazendo o som melancólico que sai de mim. Sem sentido algum.
E com todo sentimento do mundo que eu fiz dentro de mim.

Eu faço uns planos até bons, mas no final, dá tudo na mesma. Por que não tem saída.
Eu vou continuar aqui até poder voltar por minhas próprias pernas.
E mãos, e tudo.

É tão solitário pensar assim, ser assim, existir assim.
É triste, que chega a doer.
Mas dói só em mim, numa dor que só pra mim faz sentido.
Abstrato e até bonito pra quem vê.
Pra quem escuta, e pra quem lê.

Mas aqui dentro tem um tanto de coisa acontecendo:
sentimento caindo,
aperto revirando,
angustia chamando,
inquietude falando,
solidão esmagando,
amor doendo,
falta sentida, sentindo e que sentirei.

E pra diminuir tudo isso, eu tento traduzir, escrevendo, apertando teclas.
Tudo sem sentido, Na bagunça que eu sou, eu me faço, me escrevo.
Do jeito que os meteoros em mim caem, eu os desenho.
Do jeito que minha cabeça grita, eu escrevo.

Cada frase é uma peça de um quebra cabeças que eu não sei montar.

Mas eu tenho ainda muito tempo pra aprender. Pra me lidar. Pra me entender.
E tão só, que meu pensamento eu posso ouvir sem nem pensar.



ato falho

Eu me prometi não cometer o mesmo erro,
mas seria este o mesmo?
Pareceu tão diferente
Tão boa gente,
Mas quem sabe, só sou eu que tô demais carente.

Eu não quero amar de novo,
eu me prendo, eu me bato, eu me encarcero e me apavoro,
só de pensar em passar por tudo
que se passou por dentro de mim.

Foi uma felicidade em pertencer, e um medo de não ter pertencido,
foi um querer ter, e um medo bem horrível.
foi como se eu tivesse escorregado e não conseguisse frear a queda,
eu amo demais, me entrego demais. E com pressa.

Eu quero calma, um jeito, uma forma de querer que eu não queira,
                                                                                                 [que eu esteja]
que eu seja, que eu viva //
que eu não tenha medo de perder, de não ter,
de não precisar, de precisar, de necessitar, de me tomar, de ser prisão e prisioneira,
que eu seja só minha, e da minha maneira romantica demais, eu seja entendida.
E que desta vez, não me fira.
                                               
já foram muitos dias me lamentando, chorando, olhando para as paredes,
indo e vindo e parando em lugar algum. E voltando, e me machucando.
E me refazendo, com medo, cada vez mais medo, de tentar outra vez.
Ser carinho, ou ter carinho, dar carinho. Ter um ninho.

Mas entro em pleno ato falho, quando eu de repente chego naquela parte da sinfonia que o violino toca mais alto, e vibra mais, com todos os outros instrumentos atrás,
e com você na minha frente.
Eu emudeço meu medo, e tento ir em frente. Claudicando, com minhas escaras à mostra.
Sem poder segurar suas mãos, por que as minhas ainda doem.
Sem poder te olhar nos olhos, por que ainda os meus estão enturvecidos pelo sal das lágrimas.

Não quero tentar, não quero me arriscar.
Mas por vezes, sua presença, só ela [sozinha];
faz meu plano falhar,
e fracassar.
Nessa tentativa insanamente burra, de não querer que o pingo da chuva,
possa me molhar.
mesmo eu imersa no fundo enigmático do nosso mar.