sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Querido diário... Socorro.

Eu vejo uma farmácia de palavras querendo me curar.
Eu olho todos os dias para as pessoas que me diagnosticam repetidamente.
E todo dia tem doença nova.
E médico novo.
Minha casa virou um hospital. Querem me curar de mim.
Socorro!

Eu sempre fui extremista e critica. Chata. Sempre não, começou quando eu tinha uns 12 anos, eu colocava defeito em tudo que eu não gostava. Eu não aceitava que o simples fato de eu não gostar de uma música a fazia a pior do universo. Não, eu não era o centro do mundo e não podia pensar assim; e eu era uma criança. Chatinha.

E eu ainda era antissocial, usava roupas folgadas, cabelo comprido cobrindo o rosto. Eu tinha vergonha de mim, do meu rosto, dentes, olhos, corpo e tudo. E não interagia com os outros, por que desde cedo eu percebi que o julgamento era inerente ao ser humano e que eu e minha aversão à minha imagem não passaríamos despercebidos, então, move along. Eclipse social. E eu escapei do julgamento? Hahaha, não, não. Ninguém escapa, imagine uma criança gordinha, crítica, introvertida, com roupas de menino e vaidade zero. Um balde cheio para todo e qualquer tipo de piadas. E foram muitas.

Eu fui crescendo e tentando me esconder nos livros. Um tanto deles. Os da escola, inclusive. E tá, meu colesterol tava alto, fomos ao médico, mater e eu, aí veio a dieta nova. Super saudável, coisa que eu nunca fui. Mas eu aceitei aquilo tranquilamente, e me ajudava, não me sabotava. Eu entendia o que estava acontecendo. Sequei. Uma criança gorda passou a ser magra, e todo mundo da família questionou a mudança do status-quo. Anorexia foi um tema bastante discutido, pelo motivo simples de eu não gostar mais de comer umas duas coxinhas gordurosas e refrigerante, por exemplo. Eu fiquei super mal pensando que nada na vida a gente muda pra sempre, que a gente tem e vai ser aquilo que todo mundo achava, que eu fui: a gordinha boa pra tema de piada.

Depois um dia o meu pai me levou ao salão (MEU PAI, que pouco liga pra essas coisas! Observação para a gravidade da situação) e falou para eu cortar o cabelo. Eu usava o cabelo reto, odiava pentear, e como o cabelo das minhas irmãs era cacheado e o meu liso, eu sempre quis ter o cabelo delas, e passava uns cremes e enrolava com um palitinho para eles pegarem forma, e ficava parecendo um ninho de passarinho. Enfim, o Zeca cortou meu cabelo do jeito que ele quis, eu dei essa liberdade para ele; nem meu pai acreditou quando secou, ficou maravilhoso. Sério, eu olhei no espelho pela primeira vez com simpatia. Eu odiava espelhos, odiava me olhar. Isso eu tinha 13 anos.

Mas mesmo assim, minha vaidade foi zero. Eu não tenho nenhum registro fotográfico dessa época. Se tenho, saí sem querer numa foto. Odiava fotos. Odiava me ver. Eu era toda torta, ou melhor, eu me achava toda torta.

E eu usei aparelho ortodôntico. E eu tive algumas poucas espinhas. E eu me odiava. Hahaha, mesmo com o cabelo decente e magrelinha.

Minha irmã começou a trabalhar como modelo, e por eu ser magrela e alta para os padrões da idade e época, fui inserida no meio. Mas eu não gostava, sabe. Eu não me sentia bonita. Desfilei, mas parei. Não gostava de fotos. E de salto? Odiava. Minha irmã é linda, arrasava, era maravilhosa. Eu desisti de um tanto de trabalho por vergonha de mim. Lembro que o ultimo foi o antigaço TicTacMegaModel. E teve o miss também.

Eu me achava tão zero a esquerda, que eu jurava de pés juntos que nunca um menino ia gostar de mim. Então, nunca dei importância para isso. Meninos, eram perfeitos e existiam nos filmes e na Capricho, ou Malhação, mas para mim, for real? Nunca me preocupei com isso. Enquanto minhas amigas tinham o primeiro namorado, eu dava aula de reforço para as pessoas da minha série que eram de outras escolas ou da minha mesmo. Isso com 14 anos. Eu só ouvia falar.

Não quis festa de 15 anos, achava que seria meio inútil. E eu não me via com aquelas roupas de princesa, por que eu não me achava bonita mesmo, então pra quê forçar a barra vestindo roupas maravilhosas sendo que não ia ficar bom? Eu ainda usava as roupas de menino, folgadonas. Eu morria de vergonha do meu corpo. Então pedi uma câmera fotográfica por que eu sempre gostei de fotografar tudo e todos, menos eu. Mas a partir desse presente eu comecei a aceitar a minha imagem como 'não tão ruim assim'.

Dei meu primeiro beijo aos 16 anos. Foi estranho, mas foi. Nessa mesma idade eu iria me mudar do Piauí para Minas, foi aquela coisa de despedida, e etc. Nessa época eu tive meu primeiro namorado, uns 4 meses que durou. Mas foi coisa boba, por que o primeiro namorado serve apenas para você saber que sofrer faz parte. Hahahaha. Crises de adolescente à parte, foi um ano de mudanças, grandes. Comprei minha primeira maquiagem. Oh yes, eu era maria-cara-lavada. E fiz minha primeira escova no cabelo para ir a uma festa, eu curti o jeito que o cabelo ficava parecendo de japonesa.

Conheci o cara com quem eu namorei durante 6 anos e 4 meses em 2007, 17 anos. Foi na escola, em agosto, e em janeiro veio pedido. Foi maravilhoso, e eu cresci muito nisso aí. Eu comecei a gostar de mim, de minha imagem, de me arrumar. Eu usei maquiagem pela primeira vez, coloquei uma roupa linda e ajustada no corpo. A casca foi quebrando. Eu tinha um apoio, uma base, que não me julgava pela godinha-anorexica-chata-crítica-etc que eu fui, e eu me sentia mais solta para continuar mudando de acordo com o que eu acreditava e que era da minha essência. Eu fiquei mais vaidosa, claro. Mas eu era ainda muito imatura. Éramos. E por essa imaturidade, a gente se via várias vezes criticando coisas e comportamentos, e a gente não mudava isso por que ambos tinham opinião muito forte, e se apoiavam um no outro, ou seja: 0+0=0. E a gente meio que se trancava do mundo inteiro e vivia no nosso mundo de adolescentes-apaixonados. E não tinha quem não dissesse: casal perfeito, vão casar. Eu voltei para o PI, ele foi pra lá, sozinho. Ele voltou pra MG, eu passei no vestibular para lá e fui, sozinha. (sendo que eu tinha passado no PI também). Nossos pais tinham infartinhos com essa loucura toda, hahaha. Faz parte. Enfim, os anos foram passando e a gente percebendo que tava ficando diferente, que o nosso mundinho de adolescente-apaixonado foi ficando pequeno e incapaz de conter as mudanças que aconteciam. Eu tinha medo de escutar uma música diferente e ele me criticar, de mudar o estilo das roupas e ser criticada também, e etc. E foi um afastamento natural, parecia que era insistência ficar junto. E foi indo até que a gente viu que éramos apenas amigos, que o namoro mesmo tinha acabado e ninguém avisou. Domingo de páscoa de 2014 acabou, sem termina-volta, sem flash-back, sem traições, sem tempos. Foi ótimo enquanto durou, aprendi muito. Saí bem diferente do que entrei, cresci.

E durante esse tempo, eu comecei odontologia na Unimontes, passei em 2º lugar, uhu. Hahaha. Minha familia pirou quando eu quis desistir no meio do 5º semestre do curso, mas eu desisti por que eu queria o melhor para mim e não o que os outros falavam ser o melhor para mim. Passei para medicina 8 meses depois da desistência. Eu estava acreditando mais em mim e em minha capacidade de mudar.

(Independência: sempre fui fã de carterinha dela. Não gostava de pedir dinheiro e comecei a trabalhar desde cedo para ser o mais independente que eu pudesse. Eu dava aula, trabalhava na CEPISA como jovem aprendiz, eu revelava fotos e vendia para os colegas na escola; tudo isso buscando ser independente. - Isso desde os 14 anos)

Comecei a me olhar no espelho e ver que eu estava, depois de uns quase 7 anos, livre. Para me vestir, escutar música, ir a alguns lugares. Gente, foi tipo imaginar que você está em queda livre o tempo inteiro, frio na barriga o tempo inteiro. O primeiro mês foi de adaptação, de encarar e aceitar, de entender quem EU era. Dissociar o que era eu+ele do que era eu. Mas, eu acreditava muito nisso de principe, princesa, amor, etc. Romântica até transbordar. E eu me ferrei lindamente nessa de ser solteira novamente. Ninguém era romântico, era um tal de ficar e só ficar, e não ter uma história depois, era mó coisa fofa até o primeiro beijo, depois, adiós, muchacha.

Aí, fui ficando mais chata comigo mesma: acorda, menina, você talvez seja bem linda, vamos descobrir. E não preciso de menino nenhum para eu ser feliz. Vaidade nível hard, baby. Minha mãe se assustou. Eu me arrumava para sair, escolhia roupa, maquiava. Isso tudo no primeiro mês.

Em junho aconteceu uma coisa tipo de filme, uma formatura, padaria, e um xerox que eu precisava tirar para a prova de cardio que seria na segunda. E na volta para casa eu fiquei exatamente ´bodada´. Fiquei mal pra caramba, os acontecimentos posteriores não foram legais. E foi indo.

E eu hoje aprendi a nao cirticar tanto, a dar mais valor para mim e para minha imagem, leia-se vaidade, a ser uma pessoa mais simpática, conversar com os outros, sorrir. Livros são meus melhores amigos, mas não esconderijos, são lugares lindos para visitar. Amadureci muito e à força. Tá, adoro turar foto, talvez para compensar o débito naquela época, hahaha. Mas só por isso eu tô doente? Só por que eu não posso mudar? Só por que eu não posso desistir de coisas que para mim não fazem mais sentido? Eu percebi que a cada coisa ruim que acontecia, eu ia ficando mais forte. Mudando, mudando, mudando.

E vou continuar mudando, amadurecendo, crescendo e evoluindo, por favor! Eu não quero estagnar, não quero ficar por isso mesmo. Sou além. Sou eu para sempre, à frente de alheísses.

Mas mesmo assim querem me curar e me fazer voltar.
que cura é essa?
Retrocesso.


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